sexta-feira, 31 de julho de 2009


QUARTA-FEIRA,08 DE JULHO DE 2009.
De volta aos nossos encontros.
ROTEIRO : Unidades 13 e 14
1-Objetivos da oficina;
2-Sensibilização;
3- Relato de experiência;
4-Formação de grupo;
5- Produção coletiva;
6- Socialização;
7- Referencial teórico;
8-Sistematização;
9- Avançando na Prática;
10-Socialização;
11-Avaliação da oficina,
Após o recesso junino os professores das disciplinas de Língua Portuguesa da Rede Municipal de ensino de Itamaraju deram continuidade aos trabalhos e estudos do Programa Gestão a Aprendizagem Escolar – GESTAR II.
No primeiro momento foram apresentados os objetivos da oficina:
- Refletir sobre os usos e as funções da escrita nas práticas do cotidiano;
-Relacionar o letramento com as práticas de cultura local;
-Produzir atividade de preparação da escrita, considerando a cultura local, a regional e a nacional.
-Reconhecer texto e leitor como criadores de significado;
-Relacionar objetivos com diferentes textos e significados de leitura;
-Conhecer a amplitude e o papel do conhecimento prévio na leitura.
Para a sensibilização desse encontro foi feita a leitura e a reflexão do texto ‘A PIPOCA” de Rubem Alves.

A pipoca
Rubem Alves

A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas.

Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de "culinária literária". Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos.

Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A Festa de Babette que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo — porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento.

As comidas, para mim, são entidades oníricas.

Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu.

A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível.

A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.

Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas.

Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé...

A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido.

Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.

Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.

Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!

E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.

Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos.Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.

Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.

Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.

"Morre e transforma-te!" — dizia Goethe.

Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.

Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem.

Por exemplo: em Minas "piruá" é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: "Fiquei piruá!" Mas acho que o poder metafórico dos piruás é maior.

Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.

Ignoram o dito de Jesus: "Quem preservar a sua vida perdê-la-á".A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.

Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...

"Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu".

O texto acima foi extraído do jornal "Correio Popular", de Campinas (SP), onde o escritor mantém coluna bissemanal.
Rubem Alves: tudo sobre sua vida e sua obra em "Biografias".

Após essa leitura os educadores teceram comentários sobre algumas atividades do Avançado na prática - TP3. Pode-se perceber que alguns professores afirmaram o quanto é importante ter o conhecimento de mundo, escrever relacionado à vivência.Nesse momento foi feito um paralelo entre as falas dos cursistas e os textos de Paulo Freire e Patativa do Assaré.
Assim Eduardo Stefani escreve: “ Para uma boa escrita é necessário o hábito de leitura,com ele haverá a assimilação do uso da linguagem”.
As cursistas fizeram uma paródia da atividade do Avançando na prática”Cidadezinha Qualquer” de Carlos Drummond de Andrade.
NOSSA CIDADE
Era uma cidade muito engraçada
Não tinha limpeza ,não tinha nada
Não se podia brincar nela não
Porque há ruas que é um buracão
Não podia se demitir,porque emprego não tinha aqui
Na rua de todos BIS
Limpeza zero!! BIS (Nataniela Andrade,Edna Chaves)
Depois de todos apresentarem os Avançandos, foi feita a avaliação do encontro onde cada educador completou:
ESCREVE-SE PARA :
Informar decodificar,leitura.interpretar, refletir,compor testos, músicas,hinos versos,relacionar.
Para ler o mundo. Dar um recado, solicitar algo, agradecer, parabenizar. Cobrar. Transmitir uma informação. Estudar. Esquematizar. Acrescentar ou mudar uma informação, discordar, criticar, registrar um pensamento, ensinar algo(uma receita), para nos comunicar, socializar...
Expressar o que sentimos, pensamos, para refletir, produzir, aprender, ampliar o conhecimento.
Comunicar, interagir, divertir, trocar informações, registrar fatos e opiniões.
Desenvolver, praticar, conhecer, enfeitar, comunicar, agradecer,brincar. Para registrar e divulgar as idéias, os sentimentos, as opiniões, oferecer oportunidade, para conhecer, compreender, criticar, participar, cooparticipar, colaborar, conviver.
Relatar, compor, analisar, questionar, emocionar, doar,incentivar, socializar, sensibilizar,colaborar, produzir e ficar para a historia.
Para se comunicar, transmitir recados, receber recados, trocas idéias. É fundamental...
Para expor nossos pensamentos, opiniões e sentimentos, para registrar tudo que se deve perpetuar por gerações.A escrita é um instrumento de manutenção e produção do conhecimeto.
Modificar e ampliar nossos conhecimentos.
Ampliar nosso potencial de criar e imaginar.
Escreve-se para... construir sentidos, valorizando o conhecimento prévio e adequação do contexto.E assim, chega ao fim o nosso encontro.

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